PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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quarta-feira, junho 03, 2009

Los Porongas poem o Acre no circuito do rock brasileiro

RIO - A Amazônia, hoje, é pop e tem uma banda entre as melhores da cena indie nacional. Formado em Rio Branco, capital do Acre, o quarteto Los Porongas mescla rock, MPB e punk para embalar letras que por vezes retratam o cotidiano da cidade embrenhada na maior floresta do planeta.

- O grande desafio é se locomover. De Rio Branco, a única outra capital para onde se pode ir de carro é Porto Velho (Rondônia). Sei de uma banda de Envira, na Amazônia, que pegou um barco para tocar fora de casa - conta o vocalista Diogo Soares, que há dois anos mora com os Porongas em Sampa, onde gravaram um DVD ao vivo, recém-lançado pelo projeto "Itaú Cultural".

Formado em 2003, quando a cena indie local era quase inexistente, o grupo logo viu que, para viver da música, não bastaria fazer música. Tinha que se mobilizar. No ano seguinte, eles organizaram o Guerrilha Rock Festival, em Rio Branco, que estimulou bandas locais e deu origem a outros eventos. O rock estilístico dos Los Porongas atraiu atenção, e os caras caíram na estrada. Arrebataram festivais pelo Brasil e lançaram um elogiadíssimo primeiro CD, em 2007. Agora, preparam um segundo e já têm sete músicas prontas.

- A trajetória da banda tem a ver com a história da planta que, para crescer, busca a luz em meio ao concreto. Desde o início, buscamos condições para viver da música - explica o compositor do grupo, que faz show no Rio em setembro, no projeto "Quintas no BNDES".

Um pouco causa, um pouco consequência da cena do Norte, o grupo é composto por músicos de duas gerações. Diogo e João Eduardo (guitarra) foram parceiros num festival universitário e chamaram os veteranos Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria) para a banda, que tem nas influências o maior patrimônio. Anzol e Magrão viveram os primórdios do punk acreano, há 20 anos. Já Diogo ouviu muito Caetano Veloso e Maria Bethânia, além dos mais recentes Nação Zumbi e Radiohead. Led Zeppelin, Beatles e Sonic Youth se misturam à receita desse quarteto, já comparado a Mutantes e Secos & Molhados.

- Nossas influências musicais se juntam naturalmente. Assim como é espontâneo escrever sobre elementos que sempre nos cercaram - diz Diogo, que explica o nome do grupo. - Poronga é um tipo de lampião que o seringueiro usa para iluminar o caminho. E usamos o artigo em espanhol por causa da proximidade com a fronteira da Bolívia.

Em Rio Branco, conta ele, você dirige cinco minutos e está no mato, em beira de rio ou ao pé de uma cachoeira. O cenário bucólico aparece em músicas como "Ao cruzeiro" (das frases "Escadarias amazônicas a Marte" e "Ver a cena da canoa"); e na bela "Quando o inverno passar" (que diz "E verei o meu rio secar, secar"). Nas canções novas, porém, a paisagem de concreto paulista vai ganhar espaço.

- Estamos longe de casa. Esse vai ser o nosso disco de lamento sertanejo - brinca Diogo. - A maior diferença é o tempo. Aqui, é preciso calcular o tempo que se perde no trânsito. E não existe engarrafamento no Acre.
William Helal Filho – O Globo

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