PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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quinta-feira, agosto 03, 2006

PROFISSÃO QUE MATA

"A maior parte das mortes dos profissionais de imprensa é provocada por moléstias típicas decorrentes de estados emocionais, como distúrbios neurovegetativos, embolias e derrames cerebrais. Depois, em plano bem próximo, estão situados os casos de acidentes fatais em conseqüência do constante risco que corre o jornalista para exercer a profissão. Há, ainda, os problemas coronários, que também são muitos. O jornalista, aos 10 anos de profissão ininterrupta, já necessita de cuidados no sistema circulatório. O desgaste visual, cerebral e físico praticamente consome o jornalista logo aos 15 primeiros anos de atividade. Aos 20 anos de profissão, o jornalista começa a apresentar debilidade orgânica espantosa. Finalmente, aos 25 anos de atividade, ele profissionalmente `está acabado´, porque tomado por depressões das mais variadas. Assim, é o jornalista um homem que falece muito cedo, profissionalmente falando."

A afirmação é do clínico-geral do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, Pedro Vargas, que faz parte do livro O jornalista brasileiro (pág. 531), da jornalista Adísia Sá, Edições Fundação Demócrito Rocha, 1999.

Em artigo publicado no Diário da Noite, em 10 de outubro de 1969, sob o título "Profissão assassina", Chico Ribeiro afirma que "pesquisa feita nos Estados Unidos, sobre o desgaste profissional, revela que os jornalistas vivem cerca de 30% menos que os titulares de outras profissões. É impressionante o número de jornalistas mortos por efeito de distúrbios neurovegetativos, embolias e derrames cerebrais, enfartes do miocárdio e outras moléstias típicas dos estados emocionais". Mais adiante afirma que o verdadeiro jornalista não é apenas um espectador da vida, que registra, observa e comenta os fatos: o verdadeiro jornalista que exerce a profissão "sente os acontecimentos e é profundamente afetado por estes". O jornalista passa do cansaço ao esgotamento, do esgotamento à neurose, da neurose a um estado crônico de insuficiência psicossomática. Para Chico Ribeiro, exercer o jornalismo é a maneira mais agressiva de viver ou de morrer.

Indiscutivelmente, ser jornalista é a forma mais fácil e mais rápida de encontrar a morte. Não é à toa que jornalistas, no cumprimento do dever, da profissão que escolheram, são mortos em todas as partes do mundo. No Iraque, o abate de companheiros bate recorde mundial todos os anos. Desde o início da guerra 76 foram assassinados. Nas Filipinas, 12 profissionais foram mortos este ano, 21 em 2001 e 61 em 1986.

Na América Latina a situação não é muito diferente. Segundo a Federação Latino-americana de Periodistas, nos primeiros seis meses deste ano foram assassinados nove profissionais, advertindo que a violência contra jornalistas na região está atingindo níveis alarmantes. A lista de crimes é liderada pelo México, onde foram assassinados três jornalistas, seguindo-se Equador, com dois casos, e Colômbia, Guiana e Venezuela, com uma morte cada.

O relatório Targeting and Tragedy, da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), afirma que 150 jornalistas e profissionais da mídia foram mortos no ano de 2005, o número mais elevado dos últimos tempos. Das 150 mortes registradas pela FIJ, 89 jornalistas foram assassinados "no cumprimento do dever" e 61 foram vítimas de desastres enquanto trabalhavam.

O primeiro memorial
O Relatório Anual da Liberdade de Imprensa, elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), revela que 53 jornalistas foram mortos enquanto exerciam a missão de informar ou por delito de opinião, em 2004. Um ano de luto para todos os que trabalham na comunicação social. Em 1995, o islamismo radical argelino tirou a vida de 50 profissionais da informação em menos de dois anos. No Iraque, o país mais perigoso do mundo para os jornalistas, 19 repórteres morreram em 2004 e mais de uma quinzena foi seqüestrada.

Na Ásia, classificada como uma das piores regiões do planeta para os jornalistas, juntamente com o Médio Oriente, morreram 16 repórteres, a maioria por delito de opinião. Denunciar a corrupção ou investigar grandes crimes revelou-se fatal para jornalistas de Bangladesh, Filipinas e Sri Lanka. As questões relacionadas ao narcotráfico e à corrupção das elites políticas estão na base da morte de repórteres em países como Brasil, Colômbia, Nicarágua e México. Segundo o RSF, ainda em 2004, outros 907 jornalistas foram presos e 1.146 sofreram ataques ou ameaças.

A cidade francesa de Bayeux, na Normandia, decidiu construir o primeiro memorial europeu em honra de todos os jornalistas mortos no desempenho de suas funções. A inauguração está prevista para 7 de outubro de 2006. O memorial será composto por um passeio com pedras brancas, onde vão figurar os nomes dos jornalistas que, desde 1944, foram mortos em todo o mundo. O projeto está sendo desenvolvido pela organização Repórteres Sem Fronteiras.

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