PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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sexta-feira, julho 14, 2006

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - V

FALTA DE AVISO NÃO FOI

“Fazer concessões de Flonas para as Ongs estrangeiras, Deus meu, que ignorância! Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia”, denunciou o geógrafo Aziz Ab’Saber, considerado uma das maiores autoridades no assunto.

“Este projeto partiu do Ministério do Meio Ambiente, forçado por gente que era de organizações não-governamentais, as chamadas Ongs. Todas as Ongs estão dentro do Ministério, com algumas das pessoas mais cretinas desse país. Então é evidente que o Ministério não vai ter condições de fazer nada favorável à defesa da Amazônia e das florestas”, denunciou o geógrafo Aziz Ab’Saber, referindo-se ao Projeto de Lei de Gestão de Florestas (PL 4776), que está tramitando no Senado em regime de urgência e que prevê a concessão de 13 milhões de hectares da Amazônia brasileira por até 40 anos.

Um dos principais envolvidos nas denúncias feitas pelos cientistas e por entidades nacionais é o ex-secretário-executivo da Ong Imaflora, Tasso Azevedo, que exerce cargos estratégicos no Ministério do Meio Ambiente (MMA) desde o governo de FHC e é o atual diretor do Programa Nacional de Florestas (PNF). A Imaflora é uma Ong financiada pela famigerada Fundação Ford e pela Usaid, agência internacional ligada diretamente ao Departamento de Estado Norte-Americano e conhecida por financiar, com montantes estratosféricos, projetos que defendam os escusos interesses dos EUA pelo mundo afora.

TASSO, USAID E A AMAZÔNIA
Entre março e abril do ano passado, Tasso Azevedo, acompanhado de outros técnicos e representantes de Ong’s, estiveram no estado australiano de New South Wales, numa viagem bancada pela Usaid, para conhecer uma floresta concedida para “exploração sustentável”, nos moldes que se pretende implantar no Brasil. Além disso, Azevedo fez parte da equipe de técnicos que autorizou, em 1994, o projeto da Precious Woods (um grupo suíço que adquiriu 80 mil hectares no Amazonas para exploração florestal). Esta experiência, considerada no Brasil um atentado à soberania, foi considerada pelo G-7 um “modelo”.

“Como é que o governo pode imaginar que ONGs estrangeiras da região pré-alpina ou subalpina da Suíça, por exemplo, venham ao Brasil para fazer uma exploração amazônica auto-sutentada?”, questiona o geógrafo Aziz Ab’Saber. “Fazer concessões de Flonas para ONGs estrangeiras, Deus meu, que ignorância! Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia”, destacou Aziz.

PRIVATIZAÇÃO DA FLORESTA
As denúncias não partem apenas do professor Aziz. Para o pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, Rodolfo Salm, “é ingrata, para um ecólogo, a tarefa de escrever sobre o destino da floresta amazônica sem descambar para a conclusão generalista de que a bandidagem tomou conta”, denunciou, referindo-se ao Ministério do Meio Ambiente. O pesquisador condena o que chamou de “privatização da floresta”.

“A conjuntura internacional está de olho numa região de um país imenso como é o Brasil. Se não houver esclarecimento e conhecimento integrado, uma política estratégica para gerenciar a Amazônia e impedir qualquer embrião de Estado paralelo, estaremos com nossa soberania ameaçada permanentemente”, destaca o professor Aziz.

NAS MÃOS DOS ESPECULADORES
Segundo ele, as dificuldades de gerenciamento do Ministério do Meio Ambiente “dão então abertura para aqueles que estão de olho na Amazônia, não só pela floresta, mas pela água doce, pelos recursos minerais, pelas florestas que têm fármacos, uma série de produtos de importância econômica e social. E ainda pelo petróleo que foi descoberto no oeste da Amazônia, na Amazônia Ocidental. Ela, com seus 4,2 milhões de quilômetros quadrados de zona equatorial, é uma reserva de biodiversidade máxima do planeta Terra. E não pode ser colocada nas mãos de especuladores em função de uma invasão complicada do capitalismo”.

Como destacou Ab’Saber, esses grupos internacionais, em sua maioria ligados ao capital financeiro norte-americano, têm interesses muito específicos (o patrimônio genético e mineral brasileiro) e atuam sob a fachada de Ongs supostamente interessadas na “exploração sustentável”. Estas organizações são financiadas por multinacionais do cartel farmacêutico, de cosméticos, de biotecnologia, ou, ainda, diretamente por governos que, após dizimarem as florestas de seus países, tentam transformar a Floresta Amazônica num pseudopatrimônio da Humanidade.

Matéria publicada dois meses antes da aprovação do projeto no Senado.

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