PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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quinta-feira, julho 13, 2006

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - II

As reservas do imperialismo
Na década de 70, a região amazônica recebe grandes quantidades de migrantes, resultado do processo de expulsão de pequenos produtores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde investimentos capitalistas na agricultura desenvolvem a agricultura mantendo as relações atrasadas – o que se chamou de modernização conservadora – ao mesmo tempo em que grandes extensões de terras, antigos seringais, são vendidos a fazendeiros provenientes do Centro-Sul do país. Com apoio estatal recebem, além de terras, recursos para a criação de gado. Tratava-se de um projeto dos militares de ocupação da Amazônia visando fins geopolíticos, grande propriedade rodeada de pequenos produtores que serviriam de força de trabalho para o latifúndio.

“A expulsão de antigos posseiros que viviam nos seringais agora falidos, dá-se com extrema violência, espancamentos e mortes. As cidades da região expandem-se rapidamente, sem condições de infra-estrutura para os que chegam. Cresce um movimento de resistência no campo para continuar vivendo na terra e um movimento na cidade, pela ocupação de lotes urbanos para moradia”, diz a professora.

Nesse mesmo período dos anos 70 a Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura criou sindicatos de trabalhadores rurais em vários locais, ao mesmo tempo em que crescia um movimento camponês radicalizado, que enfrenta os novos proprietários de terras, que necessitam derrubar a floresta para criar gado.

Esta atividade está em frontal oposição às atividades extrativas que ainda são desenvolvidas por seringueiros ou ex-seringueiros, agora agricultores, pescadores etc. Esta luta pela posse da terra contra os latifundiários vindos do Centro-Sul será caracterizada, posteriormente, como uma luta pela manutenção da floresta. Em seu discurso Chico Mendes acrescentará que tais lutas eram pacíficas, o que não tinha nenhum fundamento.

Nazira Camely afirma que a ocupação de Rondônia no mesmo período resulta em uma ocupação dirigida pelo Estado, de pequenos produtores, principalmente em torno da principal rodovia que liga o Acre ao resto do país (BR/364). A produção de café, cacau e outros gêneros alimentícios é crescente. O massacre de populações indígenas e a intensidade de tal ocupação convertem-se em preocupação de ONGs principalmente norte-americanas que pressionam o Banco Mundial, um dos principais fornecedores de recursos para tais atividades.

A conversão de camponeses, que ainda estavam vinculados à produção de borracha, embora secundariamente, em defensores das florestas (as castanheiras e seringueiras somente sobrevivem onde existem florestas) decorreu de alianças da liderança desses trabalhadores com o movimento ambientalista, principalmente norte-americano. A atuação do oportunismo foi fundamental nesse processo, destacando o papel do PT e da igreja.

Na avaliação da professora, muitas ocupações de terra dos anos 80 eram resultado de acordos entre a igreja e o Estado, e a luta dos seringueiros para garantir suas posses contava com a experiência secular da Igreja Católica, mesmo com sua característica ação vacilante. Os seringais eram propriedades privadas dos seringalistas, que ali foram durante muito tempo patrão e Estado, com o apoio providencial da Igreja Católica, que percorria estes seringais prestando seus serviços ideológicos para garantir a ordem latifundiária. Além de seu aparato repressivo privado, o seringalista contava também com os serviços da polícia na solução de problemas vinculados ao não cumprimento das normas, por parte dos seringueiros.

A pesquisa revela que, nesse período, o PT vai ser o principal protagonista de uma “nova ordem” camponesa (de origem clerical) que atende aos interesses do imperialismo. Visa manter a pequena propriedade provocando pequeno impacto ambiental e convivendo com a grande propriedade. De uma forma sintética, com o apoio de universidades brasileiras e norte-americanas e outros organismos de pesquisa e extensão em agricultura elaborou-se como pretensa solução ao problema do desflorestamento provocado pelos pequenos camponeses e o sistema agro-florestal. A produção agrícola voltada para a exportação de produtos tropicais com aceitação nos chamados mercados verdes. Tudo isto financiado com dinheiro do G-7 para o meio ambiente. O fracasso de tal panacéia é visível, assemelhando-se aos chamados cultivos alternativos à folha de coca na Bolívia, outro redundante fracasso.

O principal projeto dessa política é a Reserva Extrativista, grandes extensões de terra vigiadas por ex-seringueiros. O PT proclama as reservas como a reforma agrária da Amazônia. Tal reforma retirava da mão dos posseiros a propriedade fundiária, firmava-se um contrato dos antigos seringueiros com o Governo Federal, a terra é propriedade do Estado, os seringueiros poderão usá-la de acordo com as determinações do órgão responsável pelo meio ambiente.

De acordo com o estudo da professora, a projeção do líder seringueiro Chico Mendes nos anos 80 contou com a colaboração decisiva de grandes ONGs norte-americanas como a Environment Defense Fund dirigida por Steve Schartzmann, que ao final dos anos 80 tinha 500 mil associados preocupados com as florestas tropicais. Tal repercussão propagandística contou ainda com oportunistas tecnocratas como a antropóloga Mary Alegretti, brasileira com boa relação com o Banco Mundial e membro do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alegretti foi assessora do Ministro de Meio Ambiente – Sarney Filho –, parceira de Steve Schartzmann e contou ainda com o apoio decisivo do PT.

Chico Mendes tinha contradições com a Igreja Católica, ou mais precisamente com parte dela, que disputava a liderança dos seringueiros, já que Chico pertencia à esquerda do PT. Sua estreita vinculação com os seringueiros decorria de sua origem, filho de seringueiro, e de sua participação nos sindicatos recém criados, que ele define como centro da política dos seringueiros-ambientalistas a aliança com os ambientalistas-imperialistas – norte-americanos –, oposição ao latifúndio – os fazendeiros financiados pelo Estado na década de 70.

Esta política era definida pelo PT na região com a orientação absoluta dessas ONGs. As contradições com os fazendeiros foram relegadas a segundo plano em função do reconhecimento “internacional” do líder seringueiro, o que resultou em seu assassinato por médios fazendeiros com a conivência do governo do Estado do Acre, à época.

A intervenção imperialista, enquanto política converte-se cada vez mais em gestão ou administração das reservas extrativistas, gestão essa executada por órgãos do Estado, organizações não governamentais, cooperativas dos seringueiros e sindicatos de trabalhadores rurais. As escolas de alfabetização dos seringueiros vão contar com enorme apoio da intelectualidade e do próprio aparelho Estatal.

“Esta administração cada vez mais direta, por organismos imperialistas, semi-colonial na forma, exigiu e continua exigindo a formação de quadros e executores, muitos deles índios e seringueiros e os bem comportados recém-formados das universidades, que difundem um credo denominado desenvolvimento sustentável”, sustenta Nazira.

No Acre, sustenta a pesquisadora, foram criadas várias ONGs revelando um verdadeiro Estado administrado pelos petistas antes que chegassem à administração do governo local no Acre. Aí, não tem limites o nível de apodrecimento e corrupção. Uma dessas ONGs é o CTA – Centro de Trabalhadores da Amazônia, de onde saiu Marina Silva – atual ministra do Meio Ambiente, Jorge Viana – Governador do Acre em seu segundo mandato, seu irmão Tião Viana – senador. Outra ONG a SOS Amazônia, entregou boa parte das terras do Acre na fronteira com o Peru para a TNC – The Nature Conservancy –, bastante conhecida por tentar comprar terras no Brasil e na Bolívia em troca de dívida externa.

“A última façanha desses senhores é tentar nessa região do Acre expulsar antigos moradores de uma região conhecida como Serra do Divisor. Outra via do semicolonialismo é o PESACRE, uma ONG vinculada à Universidade da Flórida, com longa experiência na Amazônia: Pará – Acre – Bolívia, que vem formando quadros para o ambientalismo enviando estudantes aos EUA e trazendo para a Amazônia estudantes de universidades norte-americanas, além de espiões com experiência em contra insurgência em outros países”, afirma.

De acordo com Nazira Camely, boa parte desses quadros formados nas ONGs agora ocupa posições chaves no governo do Acre e tem experiência comprovada de “organização comunitária”, projetos, venda de produtos florestais, coleta de informações, uso de tecnologias como SIG – Sistema de Informação Geográfica –, alfabetização de seringueiros, ensino bilíngüe para povos nativos etc.

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